Como a cultura anti-crianças pode ser tóxica e contraria a liberdade
Ter filhos não é mais uma obrigação, e isso é ótimo. Aos poucos, estamos quebrando o tabu de que a paternidade e a maternidade (principalmente esta última) são requisitos necessários para você ser um homem/uma mulher de verdade, realizar-se na vida. Estamos compreendendo que ter filhos dá trabalho, e não vale a pena colocar uma pessoa no mundo só por nossa vontade egoísta, sem pensar muito em como essa experiência será para a criança. Será algo desgastante para ela e para os pais.
Só que essa luta justíssima contra o preconceito com adultos sem filhos algumas vezes deriva para o extremo oposto – o ódio e/ou desprezo por qualquer coisa que se relacione a filhos, por crianças em geral, e até pela própria ideia de paternidade/maternidade. Sempre me senti muito mal ao ver alguém comentar que uma garota que engravidou “se ferrou”, ou “estragou a vida dela e do namorado”, ou “não desejo essa desgraça para ninguém”. Quem diz isso não tem o mínimo de consciência; está colocando uma carga pesadíssima em um ser que ainda nem nasceu.
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Imaginem-se fuçando as redes sociais das suas mães na época em que estavam grávidas de vocês, e lendo as pessoas falarem esse tipo de coisa; que a sua vinda é uma desgraça, que você estragou a vida dos seus pais, que por sua causa sua mãe não poderá mais realizar seus sonhos.
Sentiria-se mal, não é? Se não se sentiria, se concorda com tudo isso, vá fazer terapia urgente, e reveja seus valores de vida. Não querer ter filhos é uma coisa, ficar agourando e jogando sombras nas pessoas que vão ter é algo totalmente diferente. Vejo inclusive mulheres feministas falando esse tipo de coisa, o que é uma falta de sororidade tremenda. Acha que está lacrando, que está lutando pela liberdade de não procriar, mas na verdade, só está reforçando a cultura opressora que de fachada abençoa e na verdade amaldiçoa as mães.
Mas esse ainda não é o pior tipo de cultura childfree tóxica; acredito que o pior tipo seja o que odeia crianças indiscriminadamente. Claro, ninguém se sente bem com criança mal educada, que se joga no chão e faz birra, que se acha o reizinho do mundo.
Mas a partir do momento que começa a se dizer que não suporta a simples presença de crianças no ambiente, fazer piadas maldosas sobre esquartejar, jogar da janela, espancar até deixar roxo, dar rasteiras (essas afirmações são baseadas em fatos reais, já ouvi/li tudo isso, com direito a muitos “Hahas” no Facebook!), humilhar os pais e mães (principalmente as mães) como se estes virassem seres de segunda categoria, xingar os pequenos gratuitamente (já vi uma childfree referir-se ao filho recém nascido de uma amiga como “moleque escroto”, sendo que ela nem tinha sequer visto o bebê pessoalmente, só em fotos), dizer que “crianças não são pessoas”, entre outros comportamentos deploráveis. Como tudo tem um lado positivo, fico feliz que esse tipo de pessoa não queira se reproduzir.
Algo que já ouvi de uma mãe tóxica de um filho autista é que ela “não suporta lidar com pessoas que não estão prontas, que precisam de aprimoramento”. Ou seja, não deixa de ser uma forma de intolerância. Troque o termo “criança” das frases do parágrafo acima por “negro”, “gay” ou “mulher” para ver como as sentenças ficam horríveis e soam preconceituosas.
Mas como é com criança, e “criança nem é gente”, vale tudo. Só acho que, na verdade, queridos childfree tóxicos, quem “não está pronto” são vocês, já que são incapazes de lidar com uma parcela generosa da sociedade – uma parcela da qual vocês já fizeram parte um dia. E eu também me reservo no direito de querer distância de certos tipos de“pessoas que não estão prontas” (crianças não incluídas aqui).
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Volto a dizer: tudo bem não querer ter filhos. Tudo bem achar que não tem a paciência necessária para conviver diariamente com uma criança, ou a responsabilidade necessária para cuidar de uma. Tudo bem achar que nem todas são anjinhos imaculados (e não são MESMO, meu bullying da infância que o diga). Mas vamos parar de ficar destilando ódio – e de tolerar quem destila esse ódio? Vamos parar de apoiar a cultura childfree tóxica?
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3 pensamentos em “Cultura Childfree Tóxica, precisamos falar sobre filhos!”
Vejo um abismo entre gerações. A dos meus pais, que consideram ter filhos como sucesso e como essencial, se.relacionaram com a criação dos filhos como se não fossem dotados de personalidade, sentimentos e vontades. A exemplo disso é a frase ” pode falar que ele não entende”. Entende! Ao seu modo, superlativamente, com monstros e fins definitivos, o que torna mais importante a atenção ao que se fala e como se fala para a criança. E, gerações após, de mim em.diante, que na ânsia de curar suas cicatrizes dão voz e poder às crianças, com um quê de internet. Tudo bem não querer ter filhos, eu mesmo ósculo entre nenhum e 4. Mas, se opta por ter, ou “ganha de presente”, é preciso ser responsável. Toda a formação principal desse ser, emocional, psicológica, personalidade… tudo, é construída na infância. É preciso ter a sensibilidade de chegar ao “seu nível” e considerá-lo como uma pessoa, um ser em desenvolvimento, que entende, sente e reage à tudo, mas, que ainda não tem maturidade pra compreender como nós adultos compreendemos. Já é tão difícil pra gente.
Concordo, eu estou sempre repetindo que os adultos cobram das crianças habilidades e controle emocional que nem mesmo eles tem.
E sobre como é importante o cuidado e acompanhamento na primeira e segunda infância, eu acho que nós nascidos entre os anos 08 e 90 , tivemos muito da criação tradicional de antigamente, e logo no começo da adolescência veio a internet com um bummm , e tudo começou mudar.
Agora temos como base o que nossos país fizeram e o que milhões de outros pais fazem, acredito que temos potencial para criar nossos pequenos de uma forma melhor.
Ter filhos hoje não é o ápice da realização, mas pode ser!, como tantas outras coisas, a diferença é que com filhos deixamos algo para o mundo, e devemos cuidar melhor das nossas crianças